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Artigo após minha vivência camponesa de 15 dias em comunidade no Rio Tocantins. PA (Publicado no site: www.casacivil.pa.gov.br/procampo)


Cametá - Tapera sob uma Visão de Vivência da Engenharia Civil (Por: Maycal Souto)     

            Primeiro povoado do Baixo Rio Tocantins, Cametá-Tapera é um lugar pacato e receptivo, onde ainda podemos sentir um ar de natureza doce e simples, com uma vida cercada de heranças naturais. Cametá-Tapera localiza-se às margens do Rio Tocantins, o berço da colonização pelas missões católicas por volta de 1625. Segundo estudos feitos pela Prelazia de Cametá, ainda no ano de 1617 houve registros da presença de frades Capuchinhos de Santo Antônio, oriundos de Belém ou de São Luiz do Maranhão. Antes da chegada dos portugueses, em Cametá-Tapera viviam os índios Camutás. Posteriormente neste mesmo lugar, fora construída uma Ermida com o objetivo de catequizar os nativos ou mesmo fazer o que se chamava de aldeamento.

            Em 24 de dezembro de 1635, Cametá-Tapera tornou-se reconhecida como Vila de Cametá-Tapera ou mesmo Vila Viçosa de Santa Cruz de Camutá, onde serviria mais tarde como alicerce para a capitania de Feliciano Coelho de Carvalho e base significativa para a consolidação da Cidade de Cametá. Foi em Cametá-Tapera que Pedro Teixeira organizou sua expedição e partiu para a conquista da Amazônia com cerca de 1200 índios. Em 1713 a sede administrativa mudou-se de Cametá-Tapera para o sítio Parajó ou Murajuba, onde se assenta atualmente a cidade de Cametá, esta, portanto podemos chamar alegremente de herdeira dos frutos iniciais da colonização nascidos em Cametá-Tapera.

            Como dito, esta pequena e pacata localidade possui um enorme valor histórico, não somente para a região, mas entrelaçando-se também com a própria história do Brasil. Hoje chegando a Cametá-Tapera não podemos imaginar tamanha importância que esta localidade teve em tal contexto, pois não há indícios visuais sobre a história contada neste período colonial; a visão principal é de um povoado de vida harmônica com a natureza, onde o tom esverdeado de seu entorno não garante somente uma bela visão da Amazônia às margens do Baixo Rio Tocantins, mas também um eficiente meio de aquisição de bens nutricionais que regam o cardápio diário da comunidade.

            Este pequeno resumo histórico sobre Cametá-Tapera nos traz uma melhor visão sobre tal localidade e posterior melhor entendimento sobre o atual desenvolvimento sócio-cultural deste lugar. O PROCAMPO escolheu esta vila como uma das comunidades que receberiam estudantes durante a segunda vivência do programa. A vila foi escolhida devido a atuação desta num meio de produção agrícola local, apesar de hoje ainda estar engatinhando sob uma visão social moderna.

            Contrastando com todos os entraves podemos ver uma população local de natureza forte, cheia de vigor e força de vontade, ansiando por oportunidades que as façam ter um futuro melhor, nos aspectos básicos que uma população humana necessita. Sendo assim, vamos procurar manter, neste artigo, aspectos sociais pertinentes a uma visão a partir de um curso de Engenharia Civil e encaixá-lo onde poderíamos ter uma melhor adição de conhecimento na tentativa de melhorar a qualidade de vida dessa população.

            Os principais aspectos pertinentes a uma intervenção em favorecimento desta população, partindo de uma iniciativa da Engenharia Civil, seriam basicamente o que traria benefícios condizentes ao saneamento básico (fossas sépticas, sistema de drenagem de água e esgoto), trafegabilidade (estrada de acesso devidamente asfaltada e drenada, além da terraplenagem de ruas) contenção da erosão às margens do rio Tocantins (muros de arrimo com estudos de viabilidade de materiais locais). Tais meios trariam para Cametá-Tapera uma base de sustentabilidade que qualquer comunidade com os mesmo aspectos precisariam para poder pensar melhor num futuro mais digno.

            A questão sobre o saneamento básico deveria ser de imediato alvo para começo de melhoria da vida local. A ausência de fossas sépticas favorecem a contaminação do lençol d’água, além de proliferação de mosquitos, doenças por contaminação de vermes e outras pertinentes a esta questão. A carência de fossas não é gerada fundamentalmente por necessidade de mão-de-obra e matéria prima, mas sim por falta de informações que permitam a elaboração deste tipo de saneamento, sendo assim o morador local chega a adquirir material basicamente necessário para construção de uma fossa, no entanto sem a instrução técnica necessária, acaba por fim elaborando uma obra de total inconveniência técnica e incapaz de contribuir para o saneamento básico. Levando isto em consideração, como estudante de engenharia civil acredito que uma simples panfletagem, com um esquema técnico de construção de fossas sépticas, já ajudaria, e muito, o saneamento local.

            O sistema de drenagem de água e esgoto seria um processo muito importante para o desenvolvimento, não só no que converge a saúde da população local, mas também por ser uma obra que vem acompanhada de terraplenagem e pavimentação, daria a possibilidade de aumento da produção local de açaí, farinha de mandioca, pimenta do reino, cupuaçu e outros. Daria a garantia de uma rede logística de transporte deste meio de produção e, portanto, a perspectiva de desenvolvimento econômico com o escoamento da produção local. Lembrando também que a estrada de acesso a Cametá-Tapera, partindo para cidade de Cametá, se torna intrafegável no período de inverno, prejudicando todo o trajeto até esta cidade, dificultando o trafego de acesso às escolas e trabalhos de onde a população extrai a sua dignidade mesmo com tamanha adversidade.

            Em relação à erosão causada pelo Rio Tocantins, pode-se dizer que trará em pouco tempo danos aterrorizantes para a comunidade local, não somente de Cametá-Tapera, mas também de outras comunidades que vivem às margens deste rio. Relatos de moradores locais indicam uma média de avanço da erosão em considerações empíricas, de aproximadamente 2 m (dois metros) em apenas 9 anos. No entanto em alguns trechos onde o solo é mais fraco e a lixiviação o satura ainda mais, o avanço da erosão se torna mais rápido e já atingiu parte da “rua” que circunda as margens do rio, sendo assim, logo irá engolir os postes de energia da comunidade e num futuro bem próximo irá atingir algumas casas da população.

            Podemos dizer que hoje a engenharia possui meios distantes demais da realidade econômica local para a construção de muros de arrimo que possam realmente conter a erosão nas margens deste rio. A própria cidade de Cametá já sofreu e ainda sofre com este problema. Inúmeros muros de arrimo já foram destruídos pela fúria deste rio de ondas severas. Meios como os desvios das correntes d’água já foram e são utilizados com relativo sucesso, instalando diques improvisados, utilizando-se de embarcações afundadas em trechos do rio em que se pode desviar as correntes d’água, diminuindo, portanto a intensidade do impacto causado nas margens e, sendo assim reduzido o processo de erosão.

            Em tal contexto, a construção de muros de arrimo se torna, portanto, um elemento primordial por manter condições de vida favoráveis à existência futura da comunidade local. Entretanto, as adversidades econômicas e a singularidade da geografia às margens do Rio Tocantins, tornam esta uma obra de grande dificuldade, não só do ponto de vista econômico, mas também do ponto de vista técnico. Partindo deste pressuposto, e convivendo em comunidade acadêmica, afirmo que alguns estudantes e profissionais da área até possuem soluções geniais para construção de muros utilizando materiais locais e com boa chance de sucesso na contenção das erosões.

            Com tais explanações esperamos ter desenvolvido neste texto, não somente os aspectos visuais em Cametá-Tapera, mas também, tentar de alguma forma abrir os olhos dos que possuem o poder de ajudar essa tão rica comunidade, cheia de vontade de viver e prepará-los para um futuro ainda melhor, com maior justiça social e expectativa de vida de seus moradores e gerações posteriores, garantindo também uma maior valorização da história tão importante que fez surgir essa tão receptiva e acolhedora gente, vivendo como podem apenas com a graça de suas boas vontades e o bom do que a natureza os trouxe.

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