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Os trapos reais




Por vezes me vejo em alguma foto antiga, usando a roupa da moda, aquela calça jeans dos anos 90, que não fogem da caçoada: 'cuidado pra não prender teu sangue', ou quando vejo as calças e camisas 'bocas de sino' dos anos 60 nas fotos dos antigos da família, não posso fugir da lúgubre ‘rubridez’ da vergonha... Como pode um ser humano não ter o senso do ridículo, mas era coisa do passado, hoje somos atualizados demais pra sermos tão ridículos, não é mesmo? Imagina só, no século XXI globalizado sermos tão facilmente convencidos?

Hoje assisti um filme da época do Absolutismo Monárquico, e não sei se ria das roupas, das danças, dos costumes ou da nobre idiotice humana da época..., Da época? Será mesmo da época? Acho que não. Esta idiotice jamais se aniquila definitivamente, como aniquilei a calça balão da minha vida, sempre haverá algum idiota narcisista e sem senso do ridículo super empolgado com sua vestimenta irracionalmente real a desfilar por aí com absoluta certeza da exibição da carapaça da superioridade e ainda com a convicção de estar na moda.

O pior de tudo, quem não deixa o ridículo morrer, ainda por cima, faz com que ele seja enaltecido; e o ridículo ‘clássico’ não se prende somente nas roupas teatrais de Luiz XIV, se prende na certeza absoluta do ‘clássico’ ser clássico... do costume de 500 anos atrás ter sido o melhor de todos os costumes e deve ser mantido. A certeza de que o táxi preto desconfortável, velho fedido, feio, tosco e ultrapassado é o melhor táxi do mundo; a certeza de que o soldado que não se move por horas é um exemplo de disciplina nobre e mantenedora do costume salutar e indiscutivelmente belo a ser contemplado pelo ‘Novo Mundo’, inculto, servil, disforme, grosseiro e fora de moda...

Acho que já passou da hora de abandonar as belezas fabulosas e teatrais da família nobre, da ‘família real’ para passarmos a entender que o mundo evoluiu na essência intelectual, e faz tempo, mas as mídias de massa teimam em inserir no plantão de notícias que a rainha tropeçou e quebrou a unha, que a princesa teve constipação, que o Jheredy, que o Herry casaram, que nasceu o príncipe o herdeiro de trono: O sangue azul o magnânimo, a riqueza humana o escolhido de Deus... a luz da realeza... Quanta bobagem... quanta asneira minha gente, pelo amor de Deus... 

Portanto, não é somente o design carro movido a cavalo (estou falando do Equus ferus caballus, não do cavalo vapor, ou potência) que se tornou admiravelmente ultrapassado nos século do carro elétrico, o pensamento que enaltece um ser humano comum, de sangue vermelho (juro por Deus que nunca foi azul) também se tornou extremamente pobre, ignorante, subserviente, rasteiro, ridículo, patético, ultrapassado e da ralé. Já chega ‘serumaninho’! Nos desvencilhemos do público à aplaudir a pobre família nobre - pois não há nobreza: Isso é propaganda - todos sujam as entrâncias rugosas de inutilidade fecal, não há um só ser que seja nobre o suficiente para exalar, além do nariz empinado, um olor floral de metano intrínseco...

Chega povo! Vamos acordar... Ei!, você acha mesmo que é louvável e nobre não poder abotoar o ultimo botão do paletó para não parecer mais magro que o rei? Porr* gente, acordem! Nobre mesmo é ser humilde, amar o próximo, ser grato, gentil, generoso, caridoso... Ser diferente sem ser melhor, ser igual sem ser pior. Quer saber? Nobre mesmo são os trapos, que vestem, protegem, aquecem pela plenitude genuína da verdade, pela necessidade real, pela demanda racional de uso, não por nobre ignorância da superioridade teatral, cômica, ridícula, débil, senil, ultrapassada e démodé dos velhos palhaços.

Maycal Átila Souto 

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